segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Crises econômicas e empresariais - coisas que a gente só percebe depois

Tive a rara oportunidade de trabalhar numa empresa de varejo, tanto no momento inicial, de imensa crise quanto na época que ela prosperou de forma inacreditável.

Diferente de outros ramos, no varejo da época tudo era muito sigiloso, as empresas eram todas fechadas. Somente com a abertura de capital feita pela Renner que as informações começaram a ficar mais abertas e divulgadas. Então muita coisa acontecia sem que a gente soubesse.

Na mesma época, a empresa tentou abrir dois novos canais de negócio de venda a distância, e-commerce (obviamente) e vendas por catálogo. Nunca tive muito interesse na venda por catálogo, me parecia uma coisa meio antiga e ultrapassada, mas nutria muita simpatia pelo negócio de venda por internet.

Os dois negócios, no entanto, sofriam dos mesmo problemas: manuseio, frete, devolução de mercadorias, call-center, inadimplência..... Uma vez perguntei ao diretor qual era a perspectiva de equilíbrio financeiro dos negócios, ele me disse que talvez em 5 anos, o que eu achei natural, afinal nas lojas físicas levamos quase 10 anos para estabelecer a marca no Brasil.

Lentamente, a empresa começa a mudar no entanto, executivos retornavam a Europa, novos executivos chegavam do mercado, antigos executivos iam se aposentando.

De repente, já com um novo presidente tocando a operação, soubemos que todas as áreas de negócio seriam administradas de forma totalmente independente, cada qual com sua estrutura própria. Óbvio, tudo foi inchado, com estruturas que iam se duplicando e multiplicando, chegando inclusive a necessidade de se constituir uma empresa holding.

E uma coisa mudou na operação de varejo. Tradicionalmente, se trabalhava com lojas próprias, e de repente todas as lojas começaram a ser vendidas e novos pontos passavam a ser alugados.

Uma vez, uma das gerentes da mesa de operações do banco do grupo me ligou oferecendo um CDB, se eu não estaria interessado. Estávamos no tempo da crise econômica de 2008, ela me comentou que acionista majoritário na Europa havia capitalizado o banco em coisa de R$300 milhões, que o banco estava super-sólido. Na época pensei: "Só a operação de varejo gera R$2bi por ano, esse dinheiro é troco....".

Mas este foi só um sinal de como a crise estava nos afetando. Logo na seqüência, a operação de internet e catálogo foi encerrada. As lojas já abertas no âmbito do Mercosul, foram fechadas, praticamente de surpresa. O banco do grupo foi vendido para um grande player brasileiro. Os negócios envolvendo imobiliário foram todos vendidos e fechados.

Com tristeza, notamos que muito do esforço e dedicação a tudo que se fazia ia aos poucos sendo finalizado.

A crise econômica atingiu a empresa de uma forma inacreditável. Mas tudo foi uma construção de longa data, pois a operação desta multinacional em outros países estava tendo dificuldades em todas as praças onde tentava se estabelecer.

Mas como tudo sempre era tratado de forma muito sigilosa, a gente ficava sem saber de nada. Só depois, de fora, a gente percebe como tudo se conecta e como a empresa sofreu, tendo de re-estruturar de forma tão brutal.

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